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25 de outubro de 2011

Divinarias


Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver a montagem “Divinarias”, da CAL – Casa das Artes de Laranjeiras.


A montagem é uma adaptação livremente inspirada no romance “Nossa Senhora das Flores”, de Jean Genet.
A peça se passa em um presídio e na lembrança dos que lá estão e tem início com a chamada habitual dos presos por números. Cada preso se mostra presente levantando um cartaz onde está o número chamado e o nome do ator que interpreta aquele ser. Uma maneira interessante de apresentar os atores/alunos ao público.
A seguir uma cena confusa e desnecessária acontece: a insinuação de uma masturbação coletiva no presídio, onde textos são falados e ninguém entende nada, pois os gestos e gemidos são tão grotescos que acabam por atrapalhar completamente as informações soltas em forma de palavras. Demora algum tempo para o espectador compreender que eles estão todos dando início à história de Divina, um travesti.
A partir deste momento vimos a trajetória de Divina ser contada, hora por narradores, hora em ação dramática. Acompanhamos o mundo violento da rua e das drogas. Vemos um travesti romântico se perder em amores errados. “Divinarias” retrata a história heróica de vida e morte deste travesti que é apaixonado por Mignon, um cafetão ladrão e impostor que lhe impõe traição e abandono, trocando divina por Mimosa. Com este repúdio Divina tem seu caminho cruzado pelo mon pethit Nossa Senhora das Flores.
Os primeiros 35 minutos da montagem são cansativos e com algumas cenas totalmente desnecessárias, como é o caso da que citei onde há uma masturbação coletiva e da cena de nudez de um dos atores, que reza uma missa pornográfica e do nada abre os braços e está nu. Nestes longos minutos iniciais era perceptível ver o dedinho da CAL ali, que sempre faz questão de colocar seus alunos nus em cena sem realmente ter necessidade. A Velha cansou de ver montagens da Casa das Artes de Laranjeiras onde o principal motivo parecia ser ‘chocar’ por expor os seus pupilos como vieram ao mundo. Alguém precisa avisá-los que antes de ensinar os alunos a ficarem nus em cena é necessário fazê-los entender que é muito mais interessante se despir no teatro quando é extremamente necessário, o que não é o caso desta cena na Igreja. Além disso, na montagem a maioria dos travestis estão pessimamente caracterizados, pedaços de pano nas bundas, panos em formato de pênis marcando nas roupas, etc.
A montagem tem quase 2 horas de duração e parece ter sido dirigida por duas pessoas completamente diferentes, pois a primeira hora é caricata e até mesmo chata, porém após a aparição da personagem Nossa Senhora das Flores a montagem começa a se tornar interessante, a poesia teatral começa a aparecer e por fim nos vemos envolvidos nos passos da personagem Nossa Senhora. Vimos no final outra cena de nudez, só que desta vez dentro da proposta, com um lirismo excelente, com significado por trás do se despir. A Velha não consegue entender como uma montagem pode começar tão ruim e durante o seu percurso se transformar em algo totalmente diferente da proposta inicial e acabar ganhando um pouco de qualidade.
Marcelo Alonso Neves faz um ótimo trabalho de diretor musical, pois a sonoplastia realmente contribui para que a montagem ganhe qualidade. Carol Rodriguez tem ótimos acertos e grandes erros nos figurinos, alguns são excelentes, porém outros…
São 22 alunos/atores em cena, mas são poucos os que merecem destaque e podem ser considerados atores se formando em uma escola de teatro. A personagem principal, Divina, é interpretada por Pedro Henrique Nunes que na primeira hora da montagem nos entedia, o aluno/ator parece não dar conta da dramaticidade da personagem, mas com o passar do tempo ele chega ao mínimo exigido para o papel. Não vi uma atuação excelente, mas também não é algo desprezível. O ator está bem em cena; Mignon é interpretado por Lucas Tapioca que deixa e muito a desejar, mais alguns anos de CAL seria importante para este aluno. Larissa Marinonio interpreta o travesti Garganta Profunda (pelo menos é assim que a Velha lembra dela), um dos poucos travestis bem caracterizados e muito bem interpretado; também tem uma ótima interpretação Thaísa Cahet, que faz a mãe de Divina e em muitos momentos aparece para narrar a história; o ator Cesar Soares tem momentos bons e ruins, mas podemos perceber que quando o ator é bem conduzido sua participação se torna importante.
A Velha reservou um parágrafo para falar de Jaime Balster, o ator que interpreta Nossa Senhora das Flores. Jaime já nos chama a atenção antes mesmo de entrar em cena como Nossa Senhora. Em uma das cenas mais bonitas o ator toca violão ao lado de uma das atrizes e canta belissimamente, mas ele entra em evidência quando aparece pela primeira vez como Nossa Senhora das Flores, numa das melhores cenas da montagem quando a sua personagem assassina um senhor cego (senhor este, sem visão, muito bem interpretado por Celso Jardim). A partir deste momento a montagem começa a ficar interessante e Balster nos mostra o quanto é prazeroso ver um ótimo ator em cena. Ele consegue fazer com que nós, espectadores, criemos uma afeição por sua personagem, não apenas pela história dela, mas principalmente por seu trejeito, a sua maneira de caminhar, a sua voz doce e suave, tudo isso unido a uma caracterização perfeita. Sem dúvida alguma Jaime Balster é o destaque principal desta montagem.
No panfleto de “Divinarias” vemos a seguinte frase: “adaptação livremente inspirada no romance “Nossa Senhora das Flores”, de Jean Genet”. A Velha sente calafrios quando vê a palavra adaptação seguida de livremente. Atualmente as escolas de teatro de todo o país tem usado este recurso de divulgação para não assumir os equívocos colocados em cena. Quando é uma adaptação já pressupomos que há uma mudança da obra original; quando há escrito ‘adaptação livre’ estão nos dizendo que provavelmente veremos algo ruim e não devemos comparar com a obra original; mas quando leio ‘adaptação livremente inspirada’ sinto vontade de correr três dias e três noites, pois já é adaptado, uma adaptação livre, que não vai seguir obrigatoriamente o original, mas adaptação livremente inspirada? Inspirada? É pedir pelo amor de Deus para que o público não julgue o que vai ver. Acredito que Inez Viana não esteja feliz com o resultado de seu trabalho para usar essa frase na divulgação de sua montagem pela CAL.
Apesar de todos os pesares, como a Velha já disse, a montagem tem seu momento péssimo (o começo) e depois tem seu momento bom (da metade pro final). Vale a pena ver o que as escolas de teatro estão produzindo e perceber que há alguns talentos que irão brilhar nos palcos cariocas em montagens profissionais nos próximos anos.


Classificação da Velha: PEÇA - MÉDIA (entenda a classificação da Velha aqui)

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Informações sobre a montagem:

DIVINARIAS
Texto: Jean Genet
Adaptação: Inez Viana e Cilene Guedes
Direção: Inez Viana
Elenco: Amanda Manfredi, Amanda Rodrigues, Camilla Molica, Celso Jardim, Cesar Soares, Cilene Guedes, Fernanda Pierotti, Frederico Bilheri, Guilherme Dell Orto, Jaime Balster, Larissa Emi, Larissa Marinonio, Ley Pontes, Lia Saboia, Lucas Tapioca, Nicole Gomes, Pedro Henrique Nunes, Ruan Calheiros, Sabrina Mendonça, Sissi Faria, Talita Silveira e Thaísa Cahet.


Onde: Teatro Gonzaguinha
Quando: até 02 de novembro de 2011 / terças e quartas-feiras, 19h30.
Quanto: R$ 20,00


Que Dionísio ilumine o caminho dos que precisam!

21 de outubro de 2011

Policarpo Quaresma


Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver a montagem “Policarpo Quaresma”, de Antunes Filho.




A montagem é baseada no famoso romance escrito por Lima Barreto: “Triste Fim de Policarpo Quaresma”.
Policarpo é um nacionalista exaltado que tem uma idéia muito romântica sobre o Brasil. A montagem tem início com Quaresma e seus amigos enfiados nos livros estudando autores nacionais e tudo que já foi escrito sobre o país, é nesse momento que chega de visita o seresteiro Ricardo, com sua viola em mãos. Ricardo é um grande amigo de Quaresma. Com a chegada de Ricardo a empregada deixa claro que os vizinhos comentam sobre essa mania de Policarpo de viver enfiado nos livros e de estar junto com um seresteiro.
Quaresma parte em busca das tradições genuinamente nacionais: as indígenas. Em um discurso nacionalista Policarpo diz que o Brasil deveria voltar a utilizar as tradições do seu verdadeiro povo e que deve voltar a falar tupi. Nesta sua busca pela tradição indígena acontece uma cena muito engraçada. Policarpo recebe sua afilhada e seu compadre aos prantos, pois era assim que os índios cumprimentavam as pessoas e diz que o aperto de mão não deveria ser usado no Brasil, pois é algo inventado em outro país. A Velha quase levantou e deu um beijo na boca de Policarpo neste momento, pois me identifico muito com esse nacionalismo exagerado.
Policarpo sugere à assembleia legislativa republicana a adoção do tupi como língua oficial, o que faz ele ser motivo de chacota da imprensa e dos colegas de repartição. Ele redige um documento oficial naquela língua e termina internado num manicômio.
Após sair do manicômio Quaresma resolve ir para o campo e torna-se fazendeiro e percebe que pode ajudar o desenvolvimento do país provando ao mundo que o Brasil tem as terras mais férteis de todo o planeta. Começa aí seus planos de uma reforma nacional tendo como base a agricultura, para isso Policarpo tem a ajuda de seu empregado Anastácio.
 Ao saber sobre a Revolta da Armada, Policarpo retorna para o Rio de Janeiro para dar apoio ao regime do presidente Floriano Peixoto e sugerir reformas que mudassem a situação agrária. Inicia-se então seu envolvimento direto com a política nacional. É claro que a Velha não vai contar o final para vocês Netos Cibernéticos. Eu espero, sinceramente, que todos já tenham lido esse clássico de Lima Barreto, mas como sei que muitos de vocês não leram, vou deixar em aberto o fim desta história.
Antunes Filho traz para cena 24 atores para contar toda essa trajetória de Policarpo Quaresma em uma montagem que tem 2 horas de duração. Com um palco praticamente vazio, apenas atores e adereços cênicos, vemos algo raro no teatro nacional: a tranposição de um romance para o palco com qualidade indiscutível.
Junto com Policarpo sentimos orgulho do nosso país e acreditamos em todas as melhorias que ele nos traz. Embarcamos na loucura dele e construimos juntos uma idéia romantica sobre o Brasil.
Lee Taylor interpreta magistralmente Policarpo Quaresma. Em nenhum momento lembramos do Malandro que Lee interpretou na mesma semana em “FoiCarmen”. Temos a oportunidade de ver um verdadeiro ator sem rosto ou idade definida. Um ator metamorfose que com certeza vai inspirar muitos estudantes de teatro.
A montagem é tão bem arquitetada e tem interpretações tão maravilhosas que a apresentação que a Velha assistiu foi aplaudida durante sua exibição duas vezes: a primeira em uma cena sensacional no momento de loucura de Policarpo Quaresma e a segunda no excepcional sapateado de Lee Taylor acompanhando o Hino Nacional que levou o público ao delírio, ao aplauso intenso e gritos de “Bravo” no meio da apresentação.
Além de Lee Taylor esta montagem nos mostra outra excelente atuação: Geraldo Mário, que interpreta Tia Maria Rita de maneira sensacional e dá um show interpretando Anastácio, o empregado de Policarpo no sítio.
Rosana Ribeiro merece aplausos pelo figurino e cenografia excelentes. Estão em cena apenas elementos essenciais para que a montagem seja contada. Não há exageros em nenhum momento. Um teatro limpo como a Velha gosta de ver.
Quando Policarpo retorna ao Rio de Janeiro para a luta na Revolta da Armada a montagem começa a ficar cansativa, vemos ali longos minutos de guerra e de uma lentidão de cena. A Velha compreende que é necessário para que as história de Lima Barreto seja contada, porém confesso que senti um leve sono se aproximar.
Apesar deste momento, Antunes Filho consegue trazer para cena a história de Lima Barreto e deixá-la atual, mostrando o que vemos todos os dias nos jornais: funcionários corruptos, ineficientes e bajuladores; e a incompetência, a preguiça, a falsidade e a traição no cenário político-social brasileiro, tanto na capital quanto no interior.
Netos Cibernéticos, vocês não são loucos de perderem uma montagem tão boa quanto esta e que certamente entrará para a história do teatro brasileiro como uma das melhores montagens de Antunes Filho.


Classificação da Velha: ESPETÁCULO (entenda a classificação da Velha aqui)


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Informações sobre a montagem:

POLICARPO QUARESMA
Texto: Lima Barreto
Adaptação e Direção: Antunes Filho
Elenco: Adriano Bolshi, André Bubman, André de Araújo, Angélica Colombo, Carlos Morelli, Felipe Hofstatter, Fernando Aveiro, Flávia Strongolli, Freed Mesquita, Geraldo Mário, Ivo Leme, João Gyorgy, Juliana Calderón, Lee Taylor, Marcos de Andrade, Marília Moreira, Michelle Boesche, Natalie Pascoal, Priscila Gontijo, Rafaela Cassol, Ruber Gonçalves, Ygor Fiori e Walter Granieri.


Onde: Teatro Nelson Rodrigues
Quando: até 30 de outubro de 2011 / sextas e sábados, 20h; domingos 18h.
Quanto: R$ 24,00


Que Dionísio ilumine o caminho dos que precisam!

18 de outubro de 2011

Foi Carmen


Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver a montagem “Foi Carmen”, de Antunes Filho.


Uma jovem menina antecipa seu sonho de se tornar uma artista; através de fragmentos de realidades é tentado contar toda sua trajetória musical e sua transformação em um mito. A montagem não conta a vida de Carmen Miranda, fica mais no que essa figura se tornou na imaginação popular.
A montagem tem um começo excelente. Uma menina, interpretada por Mariah Teixeira, entra no palco contando os seus passos, quando caminha para frente o número de passos aumenta, porém quando caminha para trás, diminui, o que torna a cena inicial muito engraçada, criando empatia com o público. Esta menina sonha em ser uma grande artista. Enquanto ouvimos a voz de Carmen Miranda na sonoplastia, vemos imagens surgindo no palco, os trejeitos de Carmen aparecem nos gestos da pequena menina, que compartilha sua expressão com três velhas (quase tão velhas quanto eu).
Após este momento inicial surge uma figura típica carioca: o malandro, interpretado pelo excelente Lee Taylor. Esta figura caminha pela cidade maravilhosa nos contando momentos da vida de Carmen, até que encontra com um vulto da grande artista, interpretado por Emilie Sugai. Em nenhum momento da peça ela é mostrada de frente, dando a alusão de algo que já passou, que já morreu, que não está mais ali. E assim a montagem segue, praticamente sem texto, uma mistura de dança com teatro para nos mostrar quem “Foi Carmen”.
A montagem utiliza muito as influências do teatro japonês, principalmente o tempo do butô, um tempo de cena largo, extenso. A idéia de Antunes era deixar o público relaxado para que imagens fossem criadas em suas mentes através dos estímulos dados no palco, porém não foi isso que pude perceber no público presente e não foi o que aconteceu comigo. Sim Netos Cibernéticos, a Velha relaxou durante o espetáculo, relaxou tanto que não conseguia mais prestar a atenção por achar tudo muito parado e igual. As cenas eram extensas ao extremo, as imagens se repetiam. Na primeira cena que relatei acima a menina já nos mostra os trejeitos tão conhecidos de Carmen Miranda e o coquetel de frutas utilizado em sua cabeça, as famosas bananas. E isso se repete outras vezes. Em uma das cenas o malandro entra com um baú e retira todos esses elementos novamente. Ele coloca dois pares de sapatos altos no chão e ali já fica claro o que irá acontecer a seguir: o malandro se transformar em Carmen, usar aquele salto alto. Esta é a cena que a Velha mais se esforçou para não dormir e confesso que só fiz esse esforço por ser uma montagem do grande Antunes Filho.
Outra cena que foi no mínimo inusitada é o momento que a passista, interpretada por Patrícia Carvalho, recebe um espírito (creio eu que seja africano) e se debate no chão feito uma louca. Daquilo surge Carmen. WHAT? Que Carmen foi essa Brasil? Vinda da África através de um centro de umbanda?
A proposta de homenagear Carmen, de fazer uma homenagem referência ao butô misturado com samba e um tributo ao Rio de Janeiro… tudo isso é lindo, porém é nítido que a montagem não chega a ser algo que o público se encanta, ou tem vontade de voltar para assistir. Alguns momentos são ótimos, porém a grande parte da montagem é lenta e chata. Um tempo oriental apresentado a um público ocidental carioca no ritmo do samba. Talvez este tenha sido o equívoco.
"Foi Carmen" foi apresentada no Teatro Nelson Rodrigues integrando as apresentações de Antunes Filho no Rio de Janeiro chamada de "Trilogia Carioca Antunes Filho". A montagem que falei aqui teve apenas 3 apresentações, dias 11, 12 e 13 de outubro, porém vocês ainda podem ver as outras duas montagens dessa trilogia "Policarpo Quaresma" (que a Velha falará sobre no próximo post, sexta-feira) e "Lamartine Babo".




Classificação da Velha: PEÇA MÉDIA (entenda a classificação aqui)


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Que Dionísio ilumine o caminho dos que precisam!

14 de outubro de 2011

Outros Tempos


Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver a montagem “Outros Tempos”, de Harold Pinter.


Depois de um Rock In Rio extremamente intenso, de uns dias no hospital por ter ficado destruída com o Rock bebê, a Velha conseguiu voltar ao teatro e foi ver a primeira montagem carioca do texto “Old Times” de Harold Pinter.
Tudo tem início com um casal, Kate e Deeley, que aguardam ansiosamente pela visita de uma antiga amiga de Kate, Anna. Enquanto aguardam, Deeley questiona Kate sobre essa amiga, como ela é? será que ela vai gostar da carne feita para o jantar? será ela vegetariana? Desde o princípio um clima de mistério sobre a visitante é demonstrado.
Anna chega e começa a relembrar sua juventude ao lado de Kate, excelentes noites em Londres. Deeley se percebe fora da conversa e tenta introduzir um assunto que o faça participar da noite. Com o passar do tempo a história se torna um duelo para saber quem tem mais intimidade com Kate e não se sabe mais o que é real desse passado de lembranças e o que é inventado.
A Velha saiu da montagem sem saber no que acreditar: se acreditava mais no sono que sentiu em alguns momentos ou nas histórias entrelaçadas e não desembaraçadas criadas por Pinter.
Em cena apenas 3 atores, dois sofás que podem ser entendidos como camas, uma poltrona, um suporte para bebidas e um tapete. Nada mais. Um cenário simples que orna com o figurino, ambos belissimamente pensados por Domingos de Alcantara. A iluminação de Paulo César Medeiros também contribui para os climas que a montagem se propõe. A atuação fica por conta de Cristina Flores (Anna), Paula Braun (Kate) e Otto Jr. (Deeley). Há também Miwa Yanagizawa, que junto com Paula Braun interpreta Kate, cada uma em um dia de apresentação, claro, não ao mesmo tempo Netos Cibernéticos queridos.
Otto Jr e Paula Braun estão bem em cena, conseguem segurar a dramaticidade exigida por suas personagens, porém o destaque da montagem é Cristina Flores (talvez porque sua personagem é a que desencadeia toda a trama e é a menos tensa na história, mas sem uma boa atuação isso se perderia facilmente).
Cris, Paulinha e Juninho (sim a Velha cria intimidade fácil com o elenco) são dirigidos por Pedro Freire, também responsável pela tradução do texto de Harold Pinter. E é este o maior problema da montagem.
“Outros Tempos” é a primeira direção de Freire, e acredito que ele poderia ter começado com algo menos complexo, pois o texto de Pinter é muito confuso e sem um desenrolar perfeito pode se tornar chato. Sim, Pedro conseguiu manter a elegância e o humor do Absurdo de Pinter, porém se perde em alguns momentos.
A peça cria uma barriga (“barriga” no teatro da Velha é quando falta acontecer algo de interessante que prenda a atenção do espectador) principalmente quando as personagens começam a cantarolar músicas em inglês que fazem referência as suas vidas quando jovens, mas que não tem ligação nenhuma com o espectador, porque o mesmo se não compreende outra língua e não é idoso, como eu, fica sem entender nada do que está acontecendo em cena, pois as músicas não são referências em suas vidas.
Como um todo a peça é construída de uma maneira inteligente e cuidadosa. A transição do natural para os diálogos mais absurdos é bem feita, poderia ser melhor, mas não se torna um pecado destruidor de teatros. O que fica para nós é a incerteza de qual das personagens estava falando a verdade e de quais histórias realmente aconteceram. Isso é bom, porque é o resultado do jogo de imposição de verdades feito o tempo inteiro por todas as personagens.
Uma montagem que vale a pena ser vista. Principalmente por trazer para cena apenas elementos necessários para a história ser contada, com objetos simples e belos, e boas atuações.


Classificação da Velha: PEÇA BOA (entenda a classificação aqui)

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Informações sobre a montagem:

OUTROS TEMPOS
Texto: Harold Pinter
Tradução e Direção: Pedro Freire
Elenco: Cristina Flores, Paula Braun / Miwa Yanagizawa, Otto Jr.

Onde: Espaço Cultural Sérgio Porto (Humaitá)
Quando: até 30 de outubro de 2011 / sexta e sábado - 21h, domingo, 20h
Quanto: R$ 20,00



Que Dionísio ilumine o caminho dos que precisam!

16 de setembro de 2011

O Filho Eterno


Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver a montagem “O Filho Eterno” da Cia. Atores de Laura.


A notícia que seu primeiro filho em breve estará em seus braços deixa a personagem desta montagem extremamente entusiasmada. O desejo de se tornar pai será concretizado. É assim que se inicia o monólogo “O Filho Eterno”, da Cia. Atores de Laura, uma adaptação, feita por Bruno Lara Resende, do livro homônimo de Cristovão Tezza.
Na sala de espera do hospital o pai imagina como será o seu filho, sua relação com ele no futuro, seus desejos e expectativas em tudo que esta criança se tornará. Ao ver o médico, ele pergunta se está tudo bem com a criança e com a mãe, sem dúvida alguma da resposta positiva. O doutor confirma que ambos passam bem, mas que o filho é ‘mongolóide’, termo utilizado nos anos 80 para definir os portadores da Síndrome de Down.
Em poucos segundos o pai, que antes não sabia direito como lidar com tanta emoção e orgulho por ter um sucessor genético, agora se desnorteia com a notícia que seu filho é Down e com a imensidão de emoções contraditórias. A partir daí caminhamos com o pai por todos os sentimentos possíveis, desde o desejo de ver o filho morto, causando-o imensa felicidade com esta idéia, passando pela a vergonha da criança por ser Down, pela aceitação do filho, as dificuldades inúmeras de se criar uma criança especial e finalmente chegando à descoberta e valorização das pequenas vitórias da criança.
Charles Fricks interpreta este pai. É ele o responsável por nos levar a um sobe e desce de sentimentos por aproximadamente 1h30min. O tempo passou sem que a Velha percebesse, com exceção de um momento onde as ações da personagem principal se tornam um pouco repetitivas, ele vai e volta para o canto esquerdo frontal do palco diversas vezes, no mesmo sofrimento de não aceitação, e isso deixou a Velha um pouco aborrecida, mas em seguida a montagem retoma seu rumo e tudo volta a estar em sua mais perfeita harmonia. “O Filho Eterno” muitas vezes nos assusta, pois desmascara os presentes deixando sair em palavras o que muitas vezes ficam apenas em nossos pensamentos. Durante um longo período da montagem este pai renega seu filho e diz coisas monstruosas, como “crianças com down são feias, baixinhas, como ogros de boca grande”. Poderia até ser engraçado, se não fosse trágico... Fricks consegue fazer nós, espectadores, sentirmos vergonha de ter um filho down, como sua personagem sente. Ele também é responsável por aos poucos, junto com sua personagem, nos desvelar o quão prazeroso pode ser estar ao lado de seu filho em cada nova descoberta: os primeiros passos; a primeira palavra que a criança emiti, mesmo sendo algo inesperado que nos leva a deliciosas risadas; os primeiros rabiscos; e a beleza de perceber o mundo como o down percebe, com sentimentos tão verdadeiros.
Mesmo estando sozinho em cena Fricks nos faz ver, ao seu lado, o médico, a esposa, o motorista do carro que o azucrina, e principalmente seu filho em diversos momentos da vida, em suas diversas alturas. Vemos o filho agarrado em suas pernas, e não vemos como algo abstrato, como algo que não está ali, vemos a criança em sua totalidade, com altura, peso, cor e sorriso. Sem dúvida alguma Charles Fricks nos dá uma aula de corporeidade, interpretação e principalmente de como utilizar a imaginação a seu favor.
Em uma montagem onde não se utilizam cenários elaborados e realistas a imaginação é o que preenche as lacunas deste espaço vazio. Quanto menos o espaço oferece visualmente ao espectador, mais a imaginação do mesmo é trabalhada e excitada. Fricks faz com que o público acredite que com apenas um virar de pernas para a sua direita, com uma leve curvatura na mesma, o seu filho esteja agarrado em suas pernas e assim ele obtém o que raramente a Velha vê nas montagens cariocas: uma conexão da sua imaginação, transformada em ação, com a imaginação do público, que está disposto a jogar este jogo imaginário.
Peter Brook, em “A Porta Aberta” já diz que “as principais tarefas do ator são: traduzir suas imagens mentais em ações físicas/vocais; criar uma “vida paralela” e ser convincente na execução das ações mais simples. Portanto, para que consiga materializar suas idéias inventadas, ele precisa ultrapassar a mera imitação e ter um objetivo claro e definido” e isto é algo que vimos claramente nesta montagem dos Atores de Laura.
 “O Filho Eterno” é um exemplo do poder da imaginação do ator quando bem trabalhada. Fazer com que um público acredite nas ações do ator no palco vai além de apenas imaginar e imitar o que se imagina. Para convencer o espectador, mesmo nas ações mais simples, deve-se materializar a idéia, como diz Brook, “em carne, sangue e realidade emocional: tem que ir além da imitação, para que a vida inventada seja também uma vida paralela, que não se possa distinguir da realidade em nível algum”.
Esta montagem é a prova do quão importante é a imaginação no trabalho do ator. Roberto Mallet diz que “a imaginação do ator tem que ser uma imaginação que se encarna”, e ele tem plena razão nisso, pois Fricks nos mostra que uma imaginação em cena não pode ser apenas mental, mas tem a obrigação de envolver todo o corpo e os cinco sentidos humanos, para somente assim fazer ligação com o público.
Tudo isso só é possível porque temos um excelente ator em cena, Charles Fricks, dirigido pelo ótimo Daniel Herz, em uma adaptação sensacional de Bruno Lara Rezende, unidos à uma bela escolha de figurino de Marcelo Pies, à iluminação de Aurélio de Simões e direção musical de Lucas Marcier. Cada um faz seu trabalho de forma fantástica e é compreensível o porque Fricks no final da apresentação diz ‘nós somos os Atores de Laura’ mesmo ele estando sozinho em cena, pois sem o trabalho de toda essa equipe não seria possível uma montagem tão magistral.
Impossível não derramar lágrimas em uma montagem onde o ator se multiplica, a história é uma lição de vida e tudo se encaixa perfeitamente. A montagem está com três indicações ao Prêmio Shell 2011: Melhor Ator, Iluminação e Direção de Movimento. Todos os Netos Cibernéticos estão obrigados à prestigiarem uma das melhores montagens que o Rio de Janeiro tem neste ano de 2011.

Classificação da Velha: ESPETÁCULO (entenda a classificação aqui)

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Informações sobre a montagem:

O FILHO ETERNO
Texto: Cristovão Tezza
Adaptação: Bruno Lara Rezende
Direção: Daniel Herz
Elenco: Charles Fricks

Onde: Teatro Leblon
Quando: até 26 de outubro de 2011 / terças e quartas, 21h
Devido ao sucesso, o espetáculo teve sua temporada prolongada até 14 de dezembro de 2011, terças e quartas, 21h.
Quanto: R$ 50,00.



TEMPORADA ATUAL - 2012

Onde: Teatro Leblon
Quando: até 25 de fevereiro de 2012 / sextas e sábados, 18h30.
Quanto: R$ 50,00


Que Dionísio ilumine o caminho dos que precisam!

13 de setembro de 2011

Feriado de Mim Mesmo


Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver a montagem “Feriado de Mim Mesmo”, do grupo Teatro de Extremos.


“Feriado de Mim Mesmo” é uma adaptação feita por Fabiano de Freitas, que também assina a direção dessa montagem, do livro homônimo de Santiago Nazarian.
Miguel é um escritor jovem que vive sozinho em seu apartamento. Ele trabalha em casa, não tem amigos e não conhece os vizinhos. De repente as coisas começam a se modificar: objetos que mudam de lugar, recados na secretária eletrônica, baratas que morrem, compras que não foram feitas, roupas molhadas que não são suas e uma escova de dentes vermelha. Seria um invasor sem rosto e sem nome? Quais seriam seus propósitos? Seria um fantasma, um assassino? Talvez seja tudo um surto de esquizofrenia, talvez paranóia, talvez, Netos Cibernéticos, sejam apenas atores perdidos em cena tentando entediar o público. Se o objetivo desta montagem é a última opção a Velha tira o chapéu para eles, pois o elenco conseguiu com maestria me deixar entediada.
Quando a montagem começa o primeiro ator já mostra o que vai acontecer nos próximos 90 minutos: expressões exageradas, narrativas cansativas e intermináveis. A montagem usa de tudo um pouco, faz referências à linguagem cinematográfica, tenta ter momentos fragmentados, mistura perfomance, usa recursos audiovisuais, e faz de tudo para mostrar a fisicalidade dos atores, que são mais narradores do que atores. Tentam usar tanta coisa que tudo vira uma bagunça sem fim.
A trilha sonora de Guilherme Siman é péssima. Tem música do começo ao fim, direto, com poucos momentos sem música de fundo, tudo isso para tentar dar um clima para a cena que os atores não conseguem sozinhos. Em alguns momentos a Velha quase gritou pedindo para eles desligarem a música, que era irritante.
O pior de tudo é a narrativa em excesso unida com a redundância. Se a Velha quisesse ver uma narração de histórias, teria ido à Bienal do Livro ouvir atores lendo os livros, porque foi quase isso que a Velha viu em “Feriado de Mim Mesmo”, atores que ao invés de ler sabiam o livro de cor, mas não transformavam nada em ação concreta, ficavam apenas em ‘ele caminhou até o banheiro’ e um ator caminhava até o banheiro, ‘ele não sabia se atendia ou não o telefone’ e um ator ilustrava estar em dúvida, ‘o telefone tocou’ e entrava sonoplastia de um telefone tocando. Dionísio, por favor, me responda: como pode em pleno século XXI ser feito um teatro tão redundante? É um desrespeito ao público que pensa.
Algo desnecessário em cena foi a nudez dos atores. Não havia motivo, explicação, não tinha por que. Talvez seja para tentar seduzir os olhos do público fazendo com que o mesmo se fixe nos corpos dos atores nus e esqueça que estão quase dormindo.
Há três momentos interessantes na montagem: em dois deles a Velha foi ficando feliz, pois percebia que a peça estava caminhando para o fim, porém havia uma pausa grande e a peça continuava, acabando com toda a esperança de felicidade que havia em meu ser; o terceiro momento e o mais interessante é realmente o fim da peça, saber que aquela tortura acabou.
O mais triste de tudo é que a Velha percebe que os atores acreditam demais no que fazem em cena, acreditam que teatro é aquilo, é ser redundante, é ser chato pra parecer contemporâneo, é ficar nu porque choca, é usar recursos tecnológicos. Queria eu saber quem ensinou isso à eles? EU MATO SE DESCOBRIR.
Quando cheguei em casa acendi 4 velas (uma para cada ator e uma para o diretor) e rezei para que Dionísio ilumine demais o caminho deles, pois esses sim precisam. A Velha apenas não entende como uma montagem assim estava em cartaz no SESC de Copacabana. Mas não precisem se preocupar, Netos queridos, a temporada deles acabou dia 11 de setembro (uma data simbólica para o atentado que eles cometeram contra o teatro nacional).



Classificação da Velha: PEÇA – RUIM (entenda a classificação aqui)

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9 de setembro de 2011

Uma Flauta Mágica


Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver a montagem “Uma Flauta Mágica”  de Peter Brook.



“Uma Flauta Mágica” é uma livre e sucinta adaptação feita por Peter Brook, Franck Krawczyk e Marie-Hélène Estienne, da ópera ‘A Flauta Mágica’, de Wolfgang Amadeus Mozart.
A montagem começa com o príncipe Tamino perdido na floresta, onde encontra Papageno, um caçador de pássaros. Papageno é um homem alegre que aprecia os prazeres da vida e trabalha para a Rainha da Noite. Deste encontro Tamino fica sabendo que Pamina, filha da Rainha da Noite, foi sequestrada por Sarastro. Após ver um retrato da bela jovem o príncipe se apaixona por Pamina e, a pedido da Rainha da Noite, decide resgatá-la.
Há dois casais que se formam na montagem, Tamino-Pamina, eixo central da montagem representando a realeza, e Papageno-Papagena, simbolizando o lado comum da humanidade. Durante o desenrolar da montagem Tamino e Pamina passam por algumas provas antes de poderem se encontrar, sendo uma delas o voto de silêncio feito por Tamino, que acaba por causar imensa dor em Pamina. As dificuldades se tornam maior pela luta entre a Rainha da Noite, que ambiciona o poder, e Sarastro, rei e sacerdote de Ísis, praticante do bem. Para Sarastro trabalha, porém, o mouro Monostatos, que tenta seduzir Pamina e se alia à Rainha da Noite. Papageno também passa por um tipo de prova antes de encontrar Papagena, e este contraponto do homem comum que se comporta de modo diferente do príncipe diante das adversidades é o lado cômico que faz esta versão de Brook ser tão leve.
A montagem dura uma hora e meia e mantém os sete personagens principais da ópera de Mozart. Desaparecem da trama as damas da Rainha da Noite, o trio de rapazes e os homens armados. Podemos dizer que Franck Krawczyk concebeu uma nova partitura musical, adaptada a partir da partitura original de Mozart, pois a transcrição da mesma foi tão magnifíca que parece ser uma nova obra. Com isso a orquestra foi substituída por um maravilhoso acompanhamento de piano. Marie-Hélène Estienne e Peter Brook adaptaram o libreto de Emanuel Schikaneder com uma poesia facinante, bem aos moldes ‘brookiano’ de se fazer teatro, sem a parnafernália habitual de adereços e efeitos cênicos utilizados em musicais mundo à fora, permitindo que o espectador entre com mais facilidade na mágica e na ternura da obra de Mozart. Brook busca a essência da obra e consegue trazê-la à tona, prevalecendo uma fábula de iniciação à sabedoria, à amizade e ao amor.
A performance teatral é simples e imaginativa, com os elementos típicos de Brook administrado com precisão: o espaço é quase vazio – com apenas alguns bambus que se transformam em palácio da rainha da Noite, em prisão dos dois amantes e em floresta – e os atores e cantores atuam descalços. Mesmo sendo uma obra adaptada livremente Peter Brook não desrespeita os aspectos singulares da ópera, permitindo assim que o espectador compreenda melhor a obra de Mozart. Os cantores são muito jovens (comparados à Velha) e se desenvolvem com grande naturalidade teatral neste estilo musical. Os atores, todos negros e belos (a Velha ficou excitada com eles), suportam o peso da trama. A ópera é cantada em alemão e o diálogo é falado em francês. A Velha espera, sinceramente, que os atuais diretores dos musicais cariocas tenham assistido à montagem de Brook e aprendido que não precisam de recursos cênicos estrondosos para prender a atenção e emocionar o espectador.
“Uma Flauta Mágica” exala um frescor e uma leveza vista em poucos espetáculos. A história é facilmente compreendida e a música de Mozart, especialmente os vocais, resplandece em sua condição mais bela. Um espetáculo que faz bem ao coração e à alma.


Classificação da Velha: ESPETÁCULO!


OBSERVAÇÃO: A Velha não poderia ignorar o fato da FUNARTE ter feito uma abusiva reserva de ingressos para a montagem em questão. Em 3 apresentações o Teatro Dulcina pode comportar 1287 espectadores, porém destes 987 lugares estavam reservados à FUNARTE e apenas 300 foram liberados. A Velha apoiou o protesto feito pelo povo carioca em repúdio à este ato da FUNARTE. O resultado do manifesto foi a apresentação extra realizada ontem a tarde (08/09), porém não podemos deixar que este episódio passe em branco. O espetáculo estava em um Teatro mantido com dinheiro público e na 8ª página, na 15ª linha do programa feito pela FUNARTE está escrito: “É preciso, claro, agradecer às instituições que tornaram possível a realização destas 3 apresentações, aliás por um preço acessível para que todos possam ter acesso a uma cultura de qualidade”. Não foi isso que aconteceu, porque os que tiveram acesso foram os 300 sortudos que conseguiram comprar o ingresso e os 987 convidados da FUNARTE. “PARA QUE TODOS TENHAM ACESSO”, apenas no papel, porque na prática foi diferente.
Claro que este episódio não diminui a importância e a qualidade da apresentação de Peter Brook no Rio de Janeiro, mas eu, como Velha que sou, não poderia deixar passar em branco tal acontecimento que desrespeitou a população carioca.

Que Dionísio ilumine o caminho dos que precisam!

17 de junho de 2011

Um Dia Como os Outros

Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver a montagem “Um Dia Como os Outros”.


“Um Dia Como os Outros” nos mostra a história de uma família que se encontra todas as sextas-feiras para jantar. Porém, este encontro é especial: além de Philippe ter sido entrevistado em um canal de televisão, sua esposa, Yolanda, está aniversariando. O tradicional ponto de encontro de todos é o bar da família, que atualmente está aos cuidados do irmão mais velho, Henrique. No bar trabalha Denis, garçom que namora às escondidas a irmã caçula, Betty. Denis é detestado pela matriarca da família, Madamme Mesnard. Todos aguardam a chegada da esposa de Henrique, Arlette, para irem jantar.
Como em “Cozinha e Dependências” (mesmos dramaturgos, direção e elenco – leia o post sobre a montagem clicando aqui) a tensão se instala com o atraso de uma das personagens. Em “Um Dia Como os Outros” a demora de Arlette faz com que Madamme Mesnard comece a se exaltar, iniciando as primeiras discussões da noite. Indelicadezas, acusações entre todos e presentes equivocados mostram a complexidade das relações desta família.
A falsa harmonia é quebrada com os arranca-rabos sobre a falta de feminilidade e a solteirice de Betty, sobre a má repercussão da entrevista de Philippe, sobre o futuro do bar herdado pelo pai aos cuidados de Henrique, e sobre a ingratidão de Betty à Philippe por ter lhe conseguido um emprego. Tudo se torna um caos quando Arlette telefona para Henrique dizendo que não estará no encontro tradicional de sexta e pedindo um tempo na relação. A notícia chega aos ouvidos de todos da família que decidem comemorar o aniversário de Yolanda no bar, para não deixar Henrique sozinho.
A sintonia de todo o elenco faz com que esta montagem se torne excelente. Silvia Buarque, que interpreta Betty, deixa a desejar apenas no começo da história, pois força os movimentos masculinizados de sua personagem, porém com o desenrolar estes trejeitos se tornam fluentes. Talvez a diferença de personagem da primeira peça para a segunda, e o pouco tempo entre as mesmas, seja o motivo de tal falha, mas nada que atrapalhe o desenvolver da montagem.
Leandro Castilho, Márcio Vito e Kiko Mascarenhas estão ótimos. Por incrível que pareça o sotaque de Mascarenhas não incomodou tanto a Velha como na primeira montagem. Analu Prestes, que faz parte apenas de “Um Dia Como os Outros” está ótima também, mas o destaque, novamente, fica por conta de Bianca Byington, que interpreta deslumbrantemente a submissa Yolanda. Tanto Bianca quanto sua personagem crescem com o desenrolar da história e tomam conta total das cenas. Há muito tempo a Velha não via um público tão entregue a uma atriz (e a todo o elenco) como vi nesta montagem. A platéia estava completamente dentro de tudo que acontecia, e desde um suspiro de Yollanda a uma frase de Madamme Mesnard o público ia ao delírio com suas gargalhadas.
Não Netos Cibernéticos, não pensem que a montagem é uma comédia boba que utiliza de qualquer ferramenta para fazer o público rir a qualquer preço, é totalmente ao contrário, o humor é sofisticado, elegante e extremamente preciso. A montagem funciona com uma maestria enorme que na apresentação que a Velha assistiu o público e os atores estavam numa sintonia tão grande que em uma das cenas não se sabia quem ria mais, se quem estava dentro ou fora de cena. Por incrível que pareça essa desconcentração dos atores só acrescentou a montagem, e isso só acontece quando há uma criação de personagem tão perfeita, que possibilita o ator a entrar em harmonia com seu público e se qualquer coisa sair do roteiro não há problema, pois todos estão conectados.
“Cozinha e Dependências” é uma montagem boa, porém “Um Dia Como os Outros” é ótima. Vocês têm a obrigação de assistir ambas as montagens, principalmente para perceberem que temos no Rio de Janeiro atores tão bons capazes de se transformar em poucos minutos. Sem dúvida alguma a Velha recomenda “Um Dia Como os Outros”.


Classificação da Velha: PEÇA – ÓTIMA (entenda a classificação aqui)


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Informações sobre a montagem:

UM DIA COMO OS OUTROS
Texto: Agnès Jaoui, Jean-Pierre Bacri
Direção: Bianca Byington, Leonardo Netto
Elenco: Analu Prestes, Bianca Byington, Silvia Buarque, Kiko Mascarenhas, Leandro Castilho, Márcio Vito
Onde: Teatro Poeira
Quando: até 26 jun 2011 / sexta e sábado 21h / domingo 20h
Quanto: R$ 30.00; (R$ 40.00 para quem assistir à “Cozinha e dependências” e “Um dia como outros” no mesmo dia)


TEMPORADA ATUAL - 2012

Onde: Teatro dos Quatro
Quando: até 29 de fevereiro 2012 / segunda, terça e quarta, 21h30
Quanto: R$ 40.00;


Que Dionísio ilumine o caminho dos que precisam!