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18 de fevereiro de 2011

Adultério

Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver a montagem “Adultério” da Cia Atores de Laura.



  
“Adultério” é uma criação coletiva da Cia. Atores de Laura, há 18 anos se dedicando a pesquisa teatral. Um exemplo para os jovens que estão começando sua vida no teatro. A montagem é inspirada no mundo descrito por Luigi Pirandello e tem como tema central a infidelidade conjugal, seja ela no casamento hetero, homo ou miscelâneassexual (como a Velha gosta de chamar as conexões de pessoas e coisas que não se encaixam num padrão social sexual).
A montagem já começa com uma cena ótima, nada convencional, previsível ou redundante, onde noivo e noiva ao entrar na Igreja iniciam uma conversa surreal sobre acontecimentos do futuro; vozes do que será o casamento real destoam dos corpos que sonham que este amanhã seja bom.
Os três minutos que dura esta cena inicial já nos deixa claro que não será possível prever o que vai acontecer durante o desenrolar da trama, e nem adianta tentar Neto Cibernético, é realmente impossível não ser enganado. O melhor de tudo é que as histórias originam novas ligações entre as personagens e não se sabe com exatidão onde uma cena termina e a outra começa, todas entrelaçadas pela traição.
Os nomes das personagens da montagem são nomes de personagens de Pirandello. A Cia. usa e abusa com grande maestria e fluência citações do autor (em alguns momentos é dito que o texto é de Pirandello, mas na grande maioria o texto é inserido com naturalidade e elegância, o que a Velha adora).  “Adultério” é, de longe, uma das montagens que melhor soube entender e utilizar o metateatro proposto por Pirandello, fazendo com que a trama seja a cada minuto que passa uma surpresa, onde o espectador é enganado, traído, pois ele não sabe mais o que é verdade, o que é história ‘real’, o que é teatro ou metateatro. Uma montagem que comete, propositadamente, um adultério teatral.
A dramaturgia é excelente. O texto é fluente e proporciona aos atores um divertimento enquanto apresentam. A direção de Daniel Hertz é impecável, merecedora de aplausos e gritos de ‘bravo’ (a Velha tentou gritar, mas não tenho mais tanta força para isso, consegui apenas sussurrar um ‘bravo’, antes de cair sentada na cadeira cansada só pelo fato de tentar emitir um som um pouco mais alto). O cenário é simples e prático, muito bem pensado por Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque. A iluminação de Aurélio de Simoni completa o cenário e ajuda na criação dos climas das cenas, ótima também. Porém, e sempre tem um porém, o figurino de Patricia Muniz deixa a desejar em alguns momentos.
Todo o elenco se completa, fica claro que o trabalho de grupo desenvolvido pela Cia Atores de Laura é uma troca com respeito entre cada um dos componentes da montagem. Ana Paula Secco é a única que destoa dos demais, pois infelizmente usa a mesma entonação em todas as suas personagens, deixando claro que é a maneira da atriz se comunicar e não das personagens em si. Secco consegue ter um pequeno destaque quando interpreta a empregada, em uma das cenas. Anderson Mello e Verônica Reis estão bem em cena, Márcio Fonseca está ótimo, com momentos de realce em sua atuação, mas o destaque fica por conta de Leandro Castilho e Paulo Hamilton, ambos excelentes durante toda a apresentação e juntos proporcionam ao espectador o auge da montagem, na cena que se inicia mostrando o casamento homossexual e seus adultérios. Para a Velha este é o melhor momento de todos, onde está presente toda a proposta da montagem, do adultério em si as surpresas dentro do universo de Pirandello. Uma cena perfeita com atores impecáveis.
“Adultério” é uma montagem que deve ser vista por todos os meus Netos Cibernéticos. Um exemplo do bom teatro feito em grupo.

Classificação da Velha: ESPETÁCULO! (entenda a classificação aqui)

Observação: A Velha sabe que para ser espetáculo tudo precisa estar perfeito, mas mesmo com alguns problemas, a montagem merece ser classificada como espetáculo.

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Informações sobre a montagem:

Adultério
Texto: Cia Atores de Laura
Direção: Daniel Herz
Elenco: Ana Paula Secco, Anderson Mello, Leandro Castilho, Marcio Fonseca, Paulo Hamilton e Verônica Reis.
Onde: Teatro Gláucio Gil
Quando: até 28 fev 2011 / sábado e domingo 21h | segunda 20h
Quanto: R$ 30.00 (inteira) / R$ 15,00 (meia-entrada)

10 de fevereiro de 2011

Em outro teatro...

Olá Netos Cibernéticos!

Duas das montagens que a Velha já escreveu sobre voltaram a estar em cartaz, só que em novos espaços:

UM CORAÇÃO FRACO
Texto: Domingos Oliveira
Direção: Priscilla Rozenbaum
Elenco: Caio Blat, Cadu Fávero, Isabel Guéron
Onde: Teatro das Artes
Quando: até 29 mar 2011 / seg e ter 21h
Quanto: R$ 40.00

Leia o que a Velha achou de Um Coração Fraco


R & J DE SHAKESPEARE - JUVENTUDE INTERROMPIDA
Texto: Joe Calarco
Direção: João Fonseca
Elenco: João Gabriel Vasconcellos, Rodrigo Pandolfo, Pablo Sanábio, Felipe Lima
Onde: Teatro Gláucio Gil
Quando: até 2 mar 2011 / terça e quarta 21h
Quanto: R$ 20.00

Leia o que a Velha achou de R&J de Shakespeare - Juventude Interrompida


Que Dionísio ilumine o caminho dos que precisam!

ObsCena

Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver, na segunda-feira (07/02) a montagem “ObsCena”.



“ObsCena” não tem texto, isso mesmo, tem um roteiro que as atrizes seguem, isso não significa que não tenha dramaturgia, porque tem, mas a montagem tem uma proposta tão experimental que se tivesse texto fixo, acabado, com cada pausa e respiração marcada, não chegaria no resultado final que chegou. Confuso? Talvez, mas foi essa proposta que fez a Velha sair do seu sofá bege e ir até o Espaço Cultural Sérgio Porto ver o resultado desta pesquisa que durou anos.
A montagem é diferente do que se costuma fazer no Rio de Janeiro e isso a Velha já percebeu pelos cartazes, folders e mini-outdoors espalhados pela cidade que tem a imagem de uma Barbie com seu vestidinho rosa e a cabeça virada para trás, e não a divulgação convencional e  chata com as fotos dos que atuam tentando promover desesperadamente os atores e não a proposta do trabalho.
No programa temos uma sinopse que revela perfeitamente o que é a montagem: “O tempo. O tempo e a vontade. A vontade e o medo. O medo e o risco. O risco e os obstáculos. ObsCena é o resultado de tudo isso. Quatro anos e muitas histórias. Na minha boca, na boca delas, na nossa boca, na sua. Um encontro, dois, três… Muita falação, muita discussão, muita discórdia, muita mulher. Não dava pra diferenciar o que era ensaio, conversa, texto, espetáculo. Uma esquete, dois work in progress, outras pecadoras, diretores, parceiros, colaboradores fizeram parte do que hoje a gente canta. E conta. E canta. E grita. E experimenta. E mostra. Um pouco disso aqui, hoje, no palco. Um pouco da gente e um pouco de uns homens. Primeiro Vitor Paiva, segundo Vitor Paiva, terceiro Vitor Paiva e Domenico, o nosso homem. Um pouco da gente e um pouco da Chris. Do jeito dela. Do conceito dela. Da confiança nela. Sem ela não seriamos obscenas. Faltam dois minutos. É pouco. Não basta falar sobre o encontro. É a profundidade. Leandra. O tempo não interessa. É a profundidade, a entrega. Somos nós”
E realmente Netos Cibernéticos, são elas. Um material levantado a partir das vivências das atrizes, uma mistura delas com as personagens. Em cena vimos e ouvimos atrizes/personagens que usam seus nomes, que erram e se corrigem, que improvisam, que riem de verdade e choram de verdade, que ficam irritadas quando algo sai errado mas que refazem e deixam isso claro para o público. Uma verdade em cena, raramente vista. E é esta verdade que faz com que as atrizes e o ator fiquem em cena totalmente confortáveis, para brincar entre eles, para brincar com o público, para ouvir. Ouvir o outro de verdade. Sim, há um roteiro a ser seguido, histórias a serem contadas, mas não há uma ditadura textocentrista, o que faz a montagem ganhar muito.
Camila Magalhães, Fernando Bond e Domenico Lancelloti estão muito bem em cena, mas meus olhos não conseguiam sair de Bianca Joy Porte e Leandra Leal. Ambas iluminam a montagem com seu talento e capacidade de fazer o espectador ficar totalmente antenado a tudo que é feito, desde uma ajeitadinha na saia a um levantar de pernas sensual. “ObsCena” brinca muito com a sensualidade feminina e a inocência infantil. Em tom de conversa, desabafo, vamos descobrindo histórias que são inocentes, sensuais, chocantes, emocionantes. A Velha chorou e riu!
Um ponto extremamente positivo é a pesquisa feita com a tecnologia. Um simples celular se torna um acessório de cena excelente, até mesmo o estouro inesperado do microfone se encaixa com a proposta, você não sabe se é proposital ou não, se as desculpas de Leandra fazem ou não parte do que estamos vendo. Uma das poucas montagens que soube utilizar a tecnologia a seu favor. Não apenas a tecnologia, porque há diversos momentos em que brinquedos, que a Velha costumava dar para seus Netos, são usados em cena, as músicas que eles emitem fazem parte da história. Brinquedos inocentes que ganham sensualidade, que viram sexuais e nos assustam, mas em seguida voltam a ser brinquedos inocentes.
O cenário é composto por instrumentos musicais, pois “ObsCena” é uma banda, que canta e conta suas histórias. Além de instrumentos temos brinquedos e um fundo lindo com bichos de pelúcia, que a iluminação de Tomás Ribas ressalta a beleza do cenário. Destaque também para o figurino de Marcelo Olinto, que se encaixa perfeitamente à proposta, deixando as atrizes sensuais e infantis ao mesmo tempo. Atuação, cenário, figurino e sonoplastia tudo se encaixa e complementa a proposta, tudo é magistralmente conduzido pela diretora Christiane Jatahy. Merecedora de muitos elogios.
A montagem tem muito que evoluir ainda e isso acontecerá com o passar do tempo, com as apresentações. A única cena que preocupa a Velha é a cena final, onde as atrizes gritam. Algumas estão totalmente com suas vozes apoiadas, trabalhando corretamente com respiração e diafragma, porém outras gritam apenas com a garganta e isso pode prejudicar demais as atrizes. Cuidado com a voz meninas, vocês são ótimas, não se destruam tão cedo.
“ObsCena” é uma montagem que deve ser vista por todos, principalmente pelos Netos Cibernéticos que estudam teatro. Observem o que se passa em cena, como tudo é feito e aprendam: “Obs: cena”. Este é o verdadeiro teatro experimental que dá certo.

Classificação da Velha: PEÇA – ÓTIMA! (entenda a classificação aqui)

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Informações sobre a montagem:

ObsCena
Texto: Christiane Jatahy, Vitor Paiva
Direção: Christiane Jatahy
Onde: Espaço Cultural Sérgio Porto
Quando: até 15 fev 2011 / segundas e terças, 21h
Quanto: R$ 20.00

8 de fevereiro de 2011

Classificação da Velha

Olá Netos Cibernéticos!

A Velha vai explicar para vocês o significado de cada categorização que faço das montagens que vejo. Prestem atenção que eu vou escrever apenas uma vez.

Abaixo a Classificação da Velha:

 # Coisa: algo feito no palco que de tão ruim não merece receber outro nome;

Peça: algo feito no palco que tem as qualidades mínimas para ser chamada de peça teatral, mas há quatro tipos de peças:
*Peça Ruim: tem o básico para ser denominado como peça, porém não tem qualidade no conjunto da obra, é chata.
*Peça Média: tem o básico para ser denominado como peça, mas nem tudo que está em cena é bom, fica no meio do caminho.
* Peça Boa: tudo que está em cena é bom, desde os atores até parte técnica, porém há alguns detalhes que poderiam melhorar.
*Peça Ótima: tudo que está em cena é muito bom, chega a ser quase um espetáculo, mas falta algum detalhe para essa evolução.

 # Espetáculo: isso sim é algo que me anima: espetáculos teatrais. Porém é raro encontrar algo que possa ser chamado de espetáculo, porque precisa ter texto, direção, atuação, figurino, sonoplastia, cenário, etc., perfeitos.


Que Dionísio ilumine o caminho dos que precisam!


3 de fevereiro de 2011

Um Coração Fraco

Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver a montagem “Um Coração Fraco”.



“Um Coração Fraco” é uma adaptação feita por Domingos de Oliveira do conto de Dostoievski que foi traduzido, não sei por que, como ‘A Felicidade’, porém em russo o conto tem o nome de ‘Слабое сердце’ que traduzido literalmente é ‘Coração Fraco’, nome próximo ao da peça. Aí já começam os equívocos: uma montagem que é baseada num texto que recebe um nome diferente do original mas o título da montagem é quase idêntico ao nome do conto em russo. Algo que começa bambo, anda bambo e no fim chega perto do original. Assim eu resumo o que é a montagem dirigida por Priscilla Rozenbaum.
O enredo conta a história do jovem Vassia, pobre e frágil que trabalha em uma repartição pública como copista. Seu amigo Arkaddi é tido como um irmão por ele. Na noite de Natal, Vassia se apaixona por uma moça da idade dele e também pobre. Eles resolvem se casar e viver juntos, sem deixar de lado a mãe dela e o amigo dele. Para ganhar dinheiro, ele se compromete com um serviço, mas perde o prazo por estar sempre pensando na amada. Buscando minimizar a situação, Vassia passa noites em claro trabalhando e fica perdido entre alegrias e loucuras, se contradizendo entre a sorte e o azar, pois não se julga merecedor desse grandioso amor.
Com toda a certeza a trama é excelente, pois nos mostra a nobreza e a simplicidade dos sentimentos simultaneamente atordoados pelos fantasmas internos que impedem a manifestação real da felicidade. E isso eu já vi muito na minha vida: pessoas que não se permitem serem felizes, que sempre encontram algum problema para se torturar até morrer. Enredo ótimo, porém alguns detalhes fizeram a Velha dar algumas piscadas fortes de tédio e sono.
Ao entrar no espaço me deparei com um cenário que eu descreveria como antagônico: no centro uma reprodução fiel de uma casa pobre, no canto direito do palco um mesa com um chapéu e no canto esquerdo uma mesa com cadeiras. Confesso que estranhei, mas resolvi ficar aberta para uma nova proposta, que não veio. Cenas  com a mesma estética ocorrem tanto no espaço com cenário realista, quanto no espaço onde não há nada (só faltou um tapete no chão para Peter Brook ficar feliz). Não vi motivos para ter em cena duas estéticas tão distintas, o que me pareceu foi que a diretora Priscilla Rozenbaum resolveu colocar em cena uma casa linda, que anda, vira, e encanta para ser o lar de Vassia e seu amigo, porém chegou um momento no texto que precisava de uma chapelaria e da casa onde moram a noiva e a futura-sogra de Vassia, e neste momento Rozenbaum percebeu que seria complicado ser tão realista em tudo e resolveu não colocar nada em cena para dar um contraponto ao exagero realista da casa de Vassia. Pri, minha neta querida, não funcionou.
Outro item que não funcionou foram os atores. Não eles em si, pois eles parecem ser bons atores, mas a maneira como o texto foi dito: foram raros os momentos em que os atores conseguiam dizer o texto com verossimilhança e fazer o público acreditar que eles realmente eram da época que o texto foi escrito e que falavam de uma maneira mais coloquial. No começo da montagem Caio Blat, que faz Vassia, e Cadú Fávero, que interpreta Arkaddi, fizeram a Velha ficar super irritada e com vontade de ir embora pela maneira irreal que o texto era jogado da boca pra fora, mas após os dez primeiros minutos Caio mostrou porque é considerado um excelente ator, pois foi o único que conseguiu fazer a Velha ver Vassia em cena, e não um ator tentando fazer o público acreditar na história. Neste item, apropriação do texto, Sofia Torres, que faz a mãe da noiva, também deixou a desejar, mas até que se saiu bem se comparada a Isabel Guéron, que interpreta Lisanka. Isabel está abaixo dos demais atores e os momentos em que ela narra alguns acontecimentos foram os minutos em que a Velha cochilou, de tão tediosa que ficou a montagem.
Outra mistura que não entendi foi a de colocarem a personagem do patrão, tão falada na história, como uma gravação. Não funcionou. Sinceramente ficou horrível, quebra todo o clima da montagem. Para vocês terem uma idéia a montagem foi tão cansativa que quando acabou uma senhora que estava sentada atrás de mim disse para a pessoa que a acompanhava: 'difícil o texto né? coitados dos atores'. Eu apenas ri sozinha. A frase 'difícil o texto' significou 'coisa chata'. Releiam a frase da idosa e substituam pela minha tradução, fará mais sentido.
A iluminação de Maneco Quinderé, os figurinos de Angele Fróes, e a trilha sonora de Domingo de Oliveira estão boas. O problema maior para mim é direção. Acredito que Priscilla poderia ter explorado mais os atores e deixados todos no nível de Caio Blat.
Infelizmente a montagem ficou em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto somente até domingo passado, 30 de janeiro, senão eu recomendaria que os meus Netos Cibernéticos fossem assistir para ver a atuação de Blat. Com todas essas dificuldades ele dá uma aula de interpretação teatral e nos confirma que é um dos melhores atores da sua geração.


Classificação da Velha: PEÇA – MÉDIA!




Velha Doente

Meus queridos Netos Cibernéticos,

Peço desculpas por estar ausente esta semana, mas a Velha aqui está doente. Só consegui sair da cama para digitar essas palavras carinhosas para vocês. Espero poder falar amanhã sobre a peça "Um Coração Fraco", que fui assistir no final de semana passado.

Que Dionísio ilumine o caminho dos que precisam!