Olá Netos Cibernéticos!
A Velha foi ver a montagem “Divinarias”,
da CAL – Casa das Artes de Laranjeiras.
A montagem é
uma adaptação livremente inspirada no romance “Nossa Senhora das Flores”, de
Jean Genet.
A peça se
passa em um presídio e na lembrança dos que lá estão e tem início com a chamada
habitual dos presos por números. Cada preso se mostra presente levantando um
cartaz onde está o número chamado e o nome do ator que interpreta aquele ser.
Uma maneira interessante de apresentar os atores/alunos ao público.
A seguir uma
cena confusa e desnecessária acontece: a insinuação de uma masturbação coletiva
no presídio, onde textos são falados e ninguém entende nada, pois os gestos e
gemidos são tão grotescos que acabam por atrapalhar completamente as
informações soltas em forma de palavras. Demora algum tempo para o espectador
compreender que eles estão todos dando início à história de Divina, um
travesti.
A partir
deste momento vimos a trajetória de Divina ser contada, hora por narradores,
hora em ação dramática. Acompanhamos o mundo violento da rua e das drogas.
Vemos um travesti romântico se perder em amores errados. “Divinarias” retrata a
história heróica de vida e morte deste travesti que é apaixonado por Mignon, um
cafetão ladrão e impostor que lhe impõe traição e abandono, trocando divina por
Mimosa. Com este repúdio Divina tem seu caminho cruzado pelo mon pethit Nossa
Senhora das Flores.
Os primeiros
35 minutos da montagem são cansativos e com algumas cenas totalmente
desnecessárias, como é o caso da que citei onde há uma masturbação coletiva e
da cena de nudez de um dos atores, que reza uma missa pornográfica e do nada
abre os braços e está nu. Nestes longos minutos iniciais era perceptível ver o
dedinho da CAL ali, que sempre faz questão de colocar seus alunos nus em cena
sem realmente ter necessidade. A Velha cansou de ver montagens da Casa das
Artes de Laranjeiras onde o principal motivo parecia ser ‘chocar’ por expor os
seus pupilos como vieram ao mundo. Alguém precisa avisá-los que antes de
ensinar os alunos a ficarem nus em cena é necessário fazê-los entender que é
muito mais interessante se despir no teatro quando é extremamente necessário, o
que não é o caso desta cena na Igreja. Além disso, na montagem a maioria dos
travestis estão pessimamente caracterizados, pedaços de pano nas bundas, panos
em formato de pênis marcando nas roupas, etc.
A montagem
tem quase 2 horas de duração e parece ter sido dirigida por duas pessoas
completamente diferentes, pois a primeira hora é caricata e até mesmo chata,
porém após a aparição da personagem Nossa Senhora das Flores a montagem começa
a se tornar interessante, a poesia teatral começa a aparecer e por fim nos
vemos envolvidos nos passos da personagem Nossa Senhora. Vimos no final outra
cena de nudez, só que desta vez dentro da proposta, com um lirismo excelente,
com significado por trás do se despir. A Velha não consegue entender como uma
montagem pode começar tão ruim e durante o seu percurso se transformar em algo
totalmente diferente da proposta inicial e acabar ganhando um pouco de
qualidade.
Marcelo
Alonso Neves faz um ótimo trabalho de diretor musical, pois a sonoplastia
realmente contribui para que a montagem ganhe qualidade. Carol Rodriguez tem
ótimos acertos e grandes erros nos figurinos, alguns são excelentes, porém
outros…
São 22
alunos/atores em cena, mas são poucos os que merecem destaque e podem ser
considerados atores se formando em uma escola de teatro. A personagem
principal, Divina, é interpretada por Pedro Henrique Nunes que na primeira hora
da montagem nos entedia, o aluno/ator parece não dar conta da dramaticidade da
personagem, mas com o passar do tempo ele chega ao mínimo exigido para o papel.
Não vi uma atuação excelente, mas também não é algo desprezível. O ator está
bem em cena; Mignon é interpretado por Lucas Tapioca que deixa e muito a
desejar, mais alguns anos de CAL seria importante para este aluno. Larissa
Marinonio interpreta o travesti Garganta Profunda (pelo menos é assim que a Velha lembra dela), um dos poucos travestis bem
caracterizados e muito bem interpretado; também tem uma ótima interpretação
Thaísa Cahet, que faz a mãe de Divina e em muitos momentos aparece para narrar a
história; o ator Cesar Soares tem momentos bons e ruins, mas podemos perceber
que quando o ator é bem conduzido sua participação se torna importante.
A Velha
reservou um parágrafo para falar de Jaime Balster, o ator que interpreta Nossa
Senhora das Flores. Jaime já nos chama a atenção antes mesmo de entrar em cena
como Nossa Senhora. Em uma das cenas mais bonitas o ator toca violão ao lado de
uma das atrizes e canta belissimamente, mas ele entra em evidência quando
aparece pela primeira vez como Nossa Senhora das Flores, numa das melhores
cenas da montagem quando a sua personagem assassina um senhor cego (senhor este,
sem visão, muito bem interpretado por Celso Jardim). A partir deste momento a
montagem começa a ficar interessante e Balster nos mostra o quanto é prazeroso
ver um ótimo ator em cena. Ele consegue fazer com que nós, espectadores,
criemos uma afeição por sua personagem, não apenas pela história dela, mas
principalmente por seu trejeito, a sua maneira de caminhar, a sua voz doce e
suave, tudo isso unido a uma caracterização perfeita. Sem dúvida alguma Jaime
Balster é o destaque principal desta montagem.
No panfleto
de “Divinarias” vemos a seguinte frase: “adaptação livremente inspirada no
romance “Nossa Senhora das Flores”, de Jean Genet”. A Velha sente calafrios
quando vê a palavra adaptação seguida de livremente. Atualmente as escolas de
teatro de todo o país tem usado este recurso de divulgação para não assumir os
equívocos colocados em cena. Quando é uma adaptação já pressupomos que há uma
mudança da obra original; quando há escrito ‘adaptação livre’ estão nos dizendo
que provavelmente veremos algo ruim e não devemos comparar com a obra original;
mas quando leio ‘adaptação livremente inspirada’ sinto vontade de correr três
dias e três noites, pois já é adaptado, uma adaptação livre, que não vai seguir
obrigatoriamente o original, mas adaptação livremente inspirada? Inspirada? É
pedir pelo amor de Deus para que o público não julgue o que vai ver. Acredito
que Inez Viana não esteja feliz com o resultado de seu trabalho para usar essa
frase na divulgação de sua montagem pela CAL.
Apesar de
todos os pesares, como a Velha já disse, a montagem tem seu momento péssimo (o
começo) e depois tem seu momento bom (da metade pro final). Vale a pena ver o
que as escolas de teatro estão produzindo e perceber que há alguns talentos que
irão brilhar nos palcos cariocas em montagens profissionais nos próximos anos.
Classificação da Velha: PEÇA - MÉDIA (entenda a
classificação da Velha aqui)
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esqueçam de comentar abaixo, Netos Cibernéticos. Quero saber a opinião de vocês
sobre os posts.
Informações sobre a montagem:
DIVINARIAS
Texto: Jean Genet
Adaptação:
Inez Viana
e Cilene Guedes
Direção: Inez Viana
Elenco: Amanda
Manfredi, Amanda Rodrigues, Camilla Molica, Celso Jardim, Cesar Soares, Cilene
Guedes, Fernanda Pierotti, Frederico Bilheri, Guilherme Dell Orto, Jaime
Balster, Larissa Emi, Larissa Marinonio, Ley Pontes, Lia Saboia, Lucas Tapioca,
Nicole Gomes, Pedro Henrique Nunes, Ruan Calheiros, Sabrina Mendonça, Sissi
Faria, Talita Silveira e Thaísa Cahet.
Onde: Teatro Gonzaguinha
Quando: até 02 de novembro de 2011 /
terças e quartas-feiras, 19h30.
Quanto: R$ 20,00
Que Dionísio
ilumine o caminho dos que precisam!