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14 de junho de 2011

Cozinha e Dependências

Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver a montagem “Cozinha e Dependências”.


 “Cozinha e Dependências” conta a história de cinco amigos que, após dez anos, se reencontram para um jantar. Martine e Jac-ques, os anfitriões, são casados e hospedam temporariamente Georges, o amigo intelectual deprimido. Resolvem, então, oferecer um jantar a Charlotte e seu marido, um famoso apresentador de televisão, fazendo com que todos se reencontrem. Ainda aparecem no jantar, Fred, irmão de Martine, e sua noiva Marylin. Com o atraso de quase duas horas do casal convidado a tensão é instalada no local, o que leva Georges, que não esconde ressentimentos do passado com Charlotte e o marido, a se comportar indelicadamente.
É neste clima que a peça começa. Nós, espectadores, acompanhamos tudo pela cozinha, local onde as personagens revelam seus verdadeiros sentimentos sobre esse reencontro, fugindo de um jantar de aparências sociais.
Ao adentrar na sala onde a montagem seria apresentada a Velha quase morreu (sim, eu quase faleci), e o motivo foi o cenário. Fiquei assombrada com tanto realismo. Por um breve momento pensei que haviam ressuscitado algum cenógrafo do século XIX para colocar em cena algo tão realista. A minha cozinha estava lá, montada, com mais detalhes, e copos, e abridores, e cofre em formato de porco, e telefone que toca e geladeira, que na minha casa. Confesso que senti muito medo do que se iniciaria ali. Em pleno século XXI é possível contar a história da montagem sem precisar de tantos detalhes cenográficos realistas. Netos Cibernéticos, vocês sabem que a Velha não tem muito apreço por algo esteticamente estagnado ou vendido demais ao público, porém, confesso que fechei meus olhos, respirei fundo e pensei: “Que Dionísio ilumine o caminho dos que precisam”. E ele iluminou.
Apesar do realismo no cenário e figurino, a montagem é espirituosa, feita para divertir a família, e isso funciona. As personagens acabam sendo um pouco exageradas, em certos pontos até caricatas. Creio que isto se dê por conta das tensões e situações limites que quase todas se encontram: Martine, a anfitriã, está extremamente nervosa para que o jantar em sua residência aconteça como manda a sociedade, e tenta disfarçar isso ao máximo, gerando uma tensão interna que faz a personagem ter alguns momentos de histeria; Georges, o intelectual deprimido, é extremamente melancólico e grosseiro – é ele o maior responsável pelos primeiros momentos tensos da montagem; Charlotte, infeliz no casamento tenta equilibrar-se mantendo um affair; e assim cada personagem segue com sua tensão.
“Cozinhas e Dependências” é uma montagem que mostra o cotidiano de uma família de classe média alta, onde parecer feliz e realizado com sua vida medíocre é uma máscara obrigatória feita para ser utilizada na sala, mas ao chegar na cozinha, lugar dos empregados, da classe trabalhadora, onde não há (ou há pouca) camuflagem social, as máscaras, que inutilmente tentam disfarçar os verdadeiros sentimentos das personagens caem e se revelam, enfim, as mágoas, os desencontros, as aflições, as dores de se viver.  Claro, a montagem não faz com que você reflita sobre sua vida, nada disso, conseqüentemente não se torna uma obra-prima, porém não é algo dispensado e mal feito, ao contrário, há um cuidado com a proposta e isso torna a peça divertida.
O texto é escrito por Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri. A peça tem direção de Bianca Byington e Leonardo Netto. Todo o elenco está bem em cena, porém há um grande problema que acaba por atrapalhar a montagem: o sotaque carioca fortíssimo de Kiko Mascarenhas. A Velha quase gritou com ele no meio da apresentação porque os meus ouvidos doíam demais com a dissonância entre a melodia da fala de Mascarenhas e a dos demais.
Márcio Vito está muito bem em cena, é bom vê-lo atuar. Mas o destaque da montagem fica por conta de Bianca Byington, que deslumbrantemente interpreta a anfitriã do jantar e consegue fazer com que o público fique atento a cada detalhe, cada movimentação, e cada palavra/som emitido por sua personagem.
Cozinha e Dependências” faz parte do projeto de montar no Brasil as duas peças escritas por Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri, além da citada há a possibilidade de assistir a montagem de “Um Dia Como Os Outros” (que falarei no próximo post) com o mesmo elenco, ambas no Teatro Poeira.
A Velha recomenda “Cozinha e Dependências”. Apesar dos pesares acho importante que vocês, Netos Cibernéticos, entrem em contato com montagens onde é perceptível o trabalho de criação das personagens e o respeito com a arte teatral.

Classificação da Velha: PEÇA – MÉDIA (entenda a classificação aqui)

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Informações sobre a montagem:

Cozinha e Dependências
Texto: Agnès Jaoui, Jean-Pierre Bacri
Direção: Bianca Byington, Leonardo Netto
Elenco: Bianca Byington, Silvia Buarque, Kiko Mascarenhas, Leandro Castilho, Márcio Vito
Onde: Teatro Poeira
Quando: até 26 jun 2011 / sexta e sábado 19h30 / domingo 18h30
Quanto: R$ 30.00; (R$ 40.00 para quem assistir à “Cozinha e dependências” e “Um dia como outros” no mesmo dia)


TEMPORADA ATUAL - 2012

Onde: Teatro dos Quatro
Quando: até 29 de fevereiro 2012 / segunda, terça e quarta, 20h
Quanto: R$ 40.00



Que Dionísio ilumine o caminho dos que precisam!

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