Olá Netos Cibernéticos!
A Velha foi ver a montagem “Policarpo
Quaresma”, de Antunes Filho.
A montagem é
baseada no famoso romance escrito por Lima Barreto: “Triste Fim de Policarpo
Quaresma”.
Policarpo é um
nacionalista exaltado que tem uma idéia muito romântica sobre o Brasil. A
montagem tem início com Quaresma e seus amigos enfiados nos livros estudando
autores nacionais e tudo que já foi escrito sobre o país, é nesse momento que
chega de visita o seresteiro Ricardo, com sua viola em mãos. Ricardo é um grande
amigo de Quaresma. Com a chegada de Ricardo a empregada deixa claro que os
vizinhos comentam sobre essa mania de Policarpo de viver enfiado nos livros e
de estar junto com um seresteiro.
Quaresma parte em busca das tradições genuinamente nacionais: as
indígenas. Em um discurso nacionalista Policarpo diz que o Brasil deveria
voltar a utilizar as tradições do seu verdadeiro povo e que deve voltar a falar
tupi. Nesta sua busca pela tradição indígena acontece uma cena muito engraçada.
Policarpo recebe sua afilhada e seu compadre aos prantos, pois era assim que os
índios cumprimentavam as pessoas e diz que o aperto de mão não deveria ser
usado no Brasil, pois é algo inventado em outro país. A Velha quase levantou e
deu um beijo na boca de Policarpo neste momento, pois me identifico muito com
esse nacionalismo exagerado.
Policarpo sugere à assembleia legislativa republicana a adoção do tupi
como língua oficial, o que faz ele ser motivo de chacota da imprensa e dos
colegas de repartição. Ele redige um documento oficial naquela língua e termina
internado num manicômio.
Após sair do manicômio Quaresma resolve ir para o campo e torna-se
fazendeiro e percebe que pode ajudar o desenvolvimento do país provando ao
mundo que o Brasil tem as terras mais férteis de todo o planeta. Começa aí seus
planos de uma reforma nacional tendo como base a agricultura, para isso
Policarpo tem a ajuda de seu empregado Anastácio.
Ao saber sobre a Revolta da
Armada, Policarpo retorna para o Rio de Janeiro para dar apoio ao regime do
presidente Floriano Peixoto e sugerir reformas que mudassem a situação agrária.
Inicia-se então seu envolvimento direto com a política nacional. É claro que a
Velha não vai contar o final para vocês Netos Cibernéticos. Eu espero,
sinceramente, que todos já tenham lido esse clássico de Lima Barreto, mas como
sei que muitos de vocês não leram, vou deixar em aberto o fim desta história.
Antunes Filho traz para cena 24 atores para contar toda essa trajetória
de Policarpo Quaresma em uma montagem que tem 2 horas de duração. Com um palco
praticamente vazio, apenas atores e adereços cênicos, vemos algo raro no teatro
nacional: a tranposição de um romance para o palco com qualidade indiscutível.
Junto com Policarpo sentimos orgulho do nosso país e acreditamos em
todas as melhorias que ele nos traz. Embarcamos na loucura dele e construimos
juntos uma idéia romantica sobre o Brasil.
Lee Taylor interpreta magistralmente Policarpo Quaresma. Em nenhum
momento lembramos do Malandro que Lee interpretou na mesma semana em “FoiCarmen”. Temos a oportunidade de ver um verdadeiro ator sem rosto ou idade
definida. Um ator metamorfose que com certeza vai inspirar muitos estudantes de
teatro.
A montagem é tão bem arquitetada e tem interpretações tão maravilhosas
que a apresentação que a Velha assistiu foi aplaudida durante sua exibição duas
vezes: a primeira em uma cena sensacional no momento de loucura de Policarpo
Quaresma e a segunda no excepcional sapateado de Lee Taylor acompanhando o Hino
Nacional que levou o público ao delírio, ao aplauso intenso e gritos de “Bravo”
no meio da apresentação.
Além de Lee Taylor esta montagem nos mostra outra excelente atuação:
Geraldo Mário, que interpreta Tia Maria Rita de maneira sensacional e dá um
show interpretando Anastácio, o empregado de Policarpo no sítio.
Rosana Ribeiro merece aplausos pelo figurino e cenografia excelentes.
Estão em cena apenas elementos essenciais para que a montagem seja contada. Não
há exageros em nenhum momento. Um teatro limpo como a Velha gosta de ver.
Quando Policarpo retorna ao Rio de Janeiro para a luta na Revolta da
Armada a montagem começa a ficar cansativa, vemos ali longos minutos de guerra
e de uma lentidão de cena. A Velha compreende que é necessário para que as
história de Lima Barreto seja contada, porém confesso que senti um leve sono se
aproximar.
Apesar deste momento, Antunes Filho consegue trazer para cena a história
de Lima Barreto e deixá-la atual, mostrando o que vemos todos os dias nos
jornais: funcionários corruptos, ineficientes e bajuladores; e a incompetência, a
preguiça, a falsidade e a traição no cenário político-social brasileiro, tanto
na capital quanto no interior.
Netos
Cibernéticos, vocês não são loucos de perderem uma montagem tão boa quanto esta
e que certamente entrará para a história do teatro brasileiro como uma das
melhores montagens de Antunes Filho.
Classificação da Velha: ESPETÁCULO (entenda a
classificação da Velha aqui)
Fiquem por
dentro das atualizações do blog e novidades: sigam a Velha no Twitter e
adicionem a Velha no Facebook.
Não se
esqueçam de comentar abaixo, Netos Cibernéticos. Quero saber a opinião de vocês
sobre os posts.
Informações sobre a montagem:
POLICARPO
QUARESMA
Texto: Lima Barreto
Adaptação
e Direção: Antunes Filho
Elenco: Adriano Bolshi, André Bubman,
André de Araújo, Angélica Colombo, Carlos Morelli, Felipe Hofstatter, Fernando
Aveiro, Flávia Strongolli, Freed Mesquita, Geraldo Mário, Ivo Leme, João
Gyorgy, Juliana Calderón, Lee Taylor, Marcos de Andrade, Marília Moreira,
Michelle Boesche, Natalie Pascoal, Priscila Gontijo, Rafaela Cassol, Ruber
Gonçalves, Ygor Fiori e Walter Granieri.
Onde: Teatro Nelson Rodrigues
Quando: até 30 de outubro de 2011 /
sextas e sábados, 20h; domingos 18h.
Quanto: R$ 24,00
Que Dionísio
ilumine o caminho dos que precisam!
Nenhum comentário:
Postar um comentário