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21 de outubro de 2011

Policarpo Quaresma


Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver a montagem “Policarpo Quaresma”, de Antunes Filho.




A montagem é baseada no famoso romance escrito por Lima Barreto: “Triste Fim de Policarpo Quaresma”.
Policarpo é um nacionalista exaltado que tem uma idéia muito romântica sobre o Brasil. A montagem tem início com Quaresma e seus amigos enfiados nos livros estudando autores nacionais e tudo que já foi escrito sobre o país, é nesse momento que chega de visita o seresteiro Ricardo, com sua viola em mãos. Ricardo é um grande amigo de Quaresma. Com a chegada de Ricardo a empregada deixa claro que os vizinhos comentam sobre essa mania de Policarpo de viver enfiado nos livros e de estar junto com um seresteiro.
Quaresma parte em busca das tradições genuinamente nacionais: as indígenas. Em um discurso nacionalista Policarpo diz que o Brasil deveria voltar a utilizar as tradições do seu verdadeiro povo e que deve voltar a falar tupi. Nesta sua busca pela tradição indígena acontece uma cena muito engraçada. Policarpo recebe sua afilhada e seu compadre aos prantos, pois era assim que os índios cumprimentavam as pessoas e diz que o aperto de mão não deveria ser usado no Brasil, pois é algo inventado em outro país. A Velha quase levantou e deu um beijo na boca de Policarpo neste momento, pois me identifico muito com esse nacionalismo exagerado.
Policarpo sugere à assembleia legislativa republicana a adoção do tupi como língua oficial, o que faz ele ser motivo de chacota da imprensa e dos colegas de repartição. Ele redige um documento oficial naquela língua e termina internado num manicômio.
Após sair do manicômio Quaresma resolve ir para o campo e torna-se fazendeiro e percebe que pode ajudar o desenvolvimento do país provando ao mundo que o Brasil tem as terras mais férteis de todo o planeta. Começa aí seus planos de uma reforma nacional tendo como base a agricultura, para isso Policarpo tem a ajuda de seu empregado Anastácio.
 Ao saber sobre a Revolta da Armada, Policarpo retorna para o Rio de Janeiro para dar apoio ao regime do presidente Floriano Peixoto e sugerir reformas que mudassem a situação agrária. Inicia-se então seu envolvimento direto com a política nacional. É claro que a Velha não vai contar o final para vocês Netos Cibernéticos. Eu espero, sinceramente, que todos já tenham lido esse clássico de Lima Barreto, mas como sei que muitos de vocês não leram, vou deixar em aberto o fim desta história.
Antunes Filho traz para cena 24 atores para contar toda essa trajetória de Policarpo Quaresma em uma montagem que tem 2 horas de duração. Com um palco praticamente vazio, apenas atores e adereços cênicos, vemos algo raro no teatro nacional: a tranposição de um romance para o palco com qualidade indiscutível.
Junto com Policarpo sentimos orgulho do nosso país e acreditamos em todas as melhorias que ele nos traz. Embarcamos na loucura dele e construimos juntos uma idéia romantica sobre o Brasil.
Lee Taylor interpreta magistralmente Policarpo Quaresma. Em nenhum momento lembramos do Malandro que Lee interpretou na mesma semana em “FoiCarmen”. Temos a oportunidade de ver um verdadeiro ator sem rosto ou idade definida. Um ator metamorfose que com certeza vai inspirar muitos estudantes de teatro.
A montagem é tão bem arquitetada e tem interpretações tão maravilhosas que a apresentação que a Velha assistiu foi aplaudida durante sua exibição duas vezes: a primeira em uma cena sensacional no momento de loucura de Policarpo Quaresma e a segunda no excepcional sapateado de Lee Taylor acompanhando o Hino Nacional que levou o público ao delírio, ao aplauso intenso e gritos de “Bravo” no meio da apresentação.
Além de Lee Taylor esta montagem nos mostra outra excelente atuação: Geraldo Mário, que interpreta Tia Maria Rita de maneira sensacional e dá um show interpretando Anastácio, o empregado de Policarpo no sítio.
Rosana Ribeiro merece aplausos pelo figurino e cenografia excelentes. Estão em cena apenas elementos essenciais para que a montagem seja contada. Não há exageros em nenhum momento. Um teatro limpo como a Velha gosta de ver.
Quando Policarpo retorna ao Rio de Janeiro para a luta na Revolta da Armada a montagem começa a ficar cansativa, vemos ali longos minutos de guerra e de uma lentidão de cena. A Velha compreende que é necessário para que as história de Lima Barreto seja contada, porém confesso que senti um leve sono se aproximar.
Apesar deste momento, Antunes Filho consegue trazer para cena a história de Lima Barreto e deixá-la atual, mostrando o que vemos todos os dias nos jornais: funcionários corruptos, ineficientes e bajuladores; e a incompetência, a preguiça, a falsidade e a traição no cenário político-social brasileiro, tanto na capital quanto no interior.
Netos Cibernéticos, vocês não são loucos de perderem uma montagem tão boa quanto esta e que certamente entrará para a história do teatro brasileiro como uma das melhores montagens de Antunes Filho.


Classificação da Velha: ESPETÁCULO (entenda a classificação da Velha aqui)


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Não se esqueçam de comentar abaixo, Netos Cibernéticos. Quero saber a opinião de vocês sobre os posts.


Informações sobre a montagem:

POLICARPO QUARESMA
Texto: Lima Barreto
Adaptação e Direção: Antunes Filho
Elenco: Adriano Bolshi, André Bubman, André de Araújo, Angélica Colombo, Carlos Morelli, Felipe Hofstatter, Fernando Aveiro, Flávia Strongolli, Freed Mesquita, Geraldo Mário, Ivo Leme, João Gyorgy, Juliana Calderón, Lee Taylor, Marcos de Andrade, Marília Moreira, Michelle Boesche, Natalie Pascoal, Priscila Gontijo, Rafaela Cassol, Ruber Gonçalves, Ygor Fiori e Walter Granieri.


Onde: Teatro Nelson Rodrigues
Quando: até 30 de outubro de 2011 / sextas e sábados, 20h; domingos 18h.
Quanto: R$ 24,00


Que Dionísio ilumine o caminho dos que precisam!

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