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3 de fevereiro de 2011

Um Coração Fraco

Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver a montagem “Um Coração Fraco”.



“Um Coração Fraco” é uma adaptação feita por Domingos de Oliveira do conto de Dostoievski que foi traduzido, não sei por que, como ‘A Felicidade’, porém em russo o conto tem o nome de ‘Слабое сердце’ que traduzido literalmente é ‘Coração Fraco’, nome próximo ao da peça. Aí já começam os equívocos: uma montagem que é baseada num texto que recebe um nome diferente do original mas o título da montagem é quase idêntico ao nome do conto em russo. Algo que começa bambo, anda bambo e no fim chega perto do original. Assim eu resumo o que é a montagem dirigida por Priscilla Rozenbaum.
O enredo conta a história do jovem Vassia, pobre e frágil que trabalha em uma repartição pública como copista. Seu amigo Arkaddi é tido como um irmão por ele. Na noite de Natal, Vassia se apaixona por uma moça da idade dele e também pobre. Eles resolvem se casar e viver juntos, sem deixar de lado a mãe dela e o amigo dele. Para ganhar dinheiro, ele se compromete com um serviço, mas perde o prazo por estar sempre pensando na amada. Buscando minimizar a situação, Vassia passa noites em claro trabalhando e fica perdido entre alegrias e loucuras, se contradizendo entre a sorte e o azar, pois não se julga merecedor desse grandioso amor.
Com toda a certeza a trama é excelente, pois nos mostra a nobreza e a simplicidade dos sentimentos simultaneamente atordoados pelos fantasmas internos que impedem a manifestação real da felicidade. E isso eu já vi muito na minha vida: pessoas que não se permitem serem felizes, que sempre encontram algum problema para se torturar até morrer. Enredo ótimo, porém alguns detalhes fizeram a Velha dar algumas piscadas fortes de tédio e sono.
Ao entrar no espaço me deparei com um cenário que eu descreveria como antagônico: no centro uma reprodução fiel de uma casa pobre, no canto direito do palco um mesa com um chapéu e no canto esquerdo uma mesa com cadeiras. Confesso que estranhei, mas resolvi ficar aberta para uma nova proposta, que não veio. Cenas  com a mesma estética ocorrem tanto no espaço com cenário realista, quanto no espaço onde não há nada (só faltou um tapete no chão para Peter Brook ficar feliz). Não vi motivos para ter em cena duas estéticas tão distintas, o que me pareceu foi que a diretora Priscilla Rozenbaum resolveu colocar em cena uma casa linda, que anda, vira, e encanta para ser o lar de Vassia e seu amigo, porém chegou um momento no texto que precisava de uma chapelaria e da casa onde moram a noiva e a futura-sogra de Vassia, e neste momento Rozenbaum percebeu que seria complicado ser tão realista em tudo e resolveu não colocar nada em cena para dar um contraponto ao exagero realista da casa de Vassia. Pri, minha neta querida, não funcionou.
Outro item que não funcionou foram os atores. Não eles em si, pois eles parecem ser bons atores, mas a maneira como o texto foi dito: foram raros os momentos em que os atores conseguiam dizer o texto com verossimilhança e fazer o público acreditar que eles realmente eram da época que o texto foi escrito e que falavam de uma maneira mais coloquial. No começo da montagem Caio Blat, que faz Vassia, e Cadú Fávero, que interpreta Arkaddi, fizeram a Velha ficar super irritada e com vontade de ir embora pela maneira irreal que o texto era jogado da boca pra fora, mas após os dez primeiros minutos Caio mostrou porque é considerado um excelente ator, pois foi o único que conseguiu fazer a Velha ver Vassia em cena, e não um ator tentando fazer o público acreditar na história. Neste item, apropriação do texto, Sofia Torres, que faz a mãe da noiva, também deixou a desejar, mas até que se saiu bem se comparada a Isabel Guéron, que interpreta Lisanka. Isabel está abaixo dos demais atores e os momentos em que ela narra alguns acontecimentos foram os minutos em que a Velha cochilou, de tão tediosa que ficou a montagem.
Outra mistura que não entendi foi a de colocarem a personagem do patrão, tão falada na história, como uma gravação. Não funcionou. Sinceramente ficou horrível, quebra todo o clima da montagem. Para vocês terem uma idéia a montagem foi tão cansativa que quando acabou uma senhora que estava sentada atrás de mim disse para a pessoa que a acompanhava: 'difícil o texto né? coitados dos atores'. Eu apenas ri sozinha. A frase 'difícil o texto' significou 'coisa chata'. Releiam a frase da idosa e substituam pela minha tradução, fará mais sentido.
A iluminação de Maneco Quinderé, os figurinos de Angele Fróes, e a trilha sonora de Domingo de Oliveira estão boas. O problema maior para mim é direção. Acredito que Priscilla poderia ter explorado mais os atores e deixados todos no nível de Caio Blat.
Infelizmente a montagem ficou em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto somente até domingo passado, 30 de janeiro, senão eu recomendaria que os meus Netos Cibernéticos fossem assistir para ver a atuação de Blat. Com todas essas dificuldades ele dá uma aula de interpretação teatral e nos confirma que é um dos melhores atores da sua geração.


Classificação da Velha: PEÇA – MÉDIA!




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