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10 de fevereiro de 2011

ObsCena

Olá Netos Cibernéticos!

A Velha foi ver, na segunda-feira (07/02) a montagem “ObsCena”.



“ObsCena” não tem texto, isso mesmo, tem um roteiro que as atrizes seguem, isso não significa que não tenha dramaturgia, porque tem, mas a montagem tem uma proposta tão experimental que se tivesse texto fixo, acabado, com cada pausa e respiração marcada, não chegaria no resultado final que chegou. Confuso? Talvez, mas foi essa proposta que fez a Velha sair do seu sofá bege e ir até o Espaço Cultural Sérgio Porto ver o resultado desta pesquisa que durou anos.
A montagem é diferente do que se costuma fazer no Rio de Janeiro e isso a Velha já percebeu pelos cartazes, folders e mini-outdoors espalhados pela cidade que tem a imagem de uma Barbie com seu vestidinho rosa e a cabeça virada para trás, e não a divulgação convencional e  chata com as fotos dos que atuam tentando promover desesperadamente os atores e não a proposta do trabalho.
No programa temos uma sinopse que revela perfeitamente o que é a montagem: “O tempo. O tempo e a vontade. A vontade e o medo. O medo e o risco. O risco e os obstáculos. ObsCena é o resultado de tudo isso. Quatro anos e muitas histórias. Na minha boca, na boca delas, na nossa boca, na sua. Um encontro, dois, três… Muita falação, muita discussão, muita discórdia, muita mulher. Não dava pra diferenciar o que era ensaio, conversa, texto, espetáculo. Uma esquete, dois work in progress, outras pecadoras, diretores, parceiros, colaboradores fizeram parte do que hoje a gente canta. E conta. E canta. E grita. E experimenta. E mostra. Um pouco disso aqui, hoje, no palco. Um pouco da gente e um pouco de uns homens. Primeiro Vitor Paiva, segundo Vitor Paiva, terceiro Vitor Paiva e Domenico, o nosso homem. Um pouco da gente e um pouco da Chris. Do jeito dela. Do conceito dela. Da confiança nela. Sem ela não seriamos obscenas. Faltam dois minutos. É pouco. Não basta falar sobre o encontro. É a profundidade. Leandra. O tempo não interessa. É a profundidade, a entrega. Somos nós”
E realmente Netos Cibernéticos, são elas. Um material levantado a partir das vivências das atrizes, uma mistura delas com as personagens. Em cena vimos e ouvimos atrizes/personagens que usam seus nomes, que erram e se corrigem, que improvisam, que riem de verdade e choram de verdade, que ficam irritadas quando algo sai errado mas que refazem e deixam isso claro para o público. Uma verdade em cena, raramente vista. E é esta verdade que faz com que as atrizes e o ator fiquem em cena totalmente confortáveis, para brincar entre eles, para brincar com o público, para ouvir. Ouvir o outro de verdade. Sim, há um roteiro a ser seguido, histórias a serem contadas, mas não há uma ditadura textocentrista, o que faz a montagem ganhar muito.
Camila Magalhães, Fernando Bond e Domenico Lancelloti estão muito bem em cena, mas meus olhos não conseguiam sair de Bianca Joy Porte e Leandra Leal. Ambas iluminam a montagem com seu talento e capacidade de fazer o espectador ficar totalmente antenado a tudo que é feito, desde uma ajeitadinha na saia a um levantar de pernas sensual. “ObsCena” brinca muito com a sensualidade feminina e a inocência infantil. Em tom de conversa, desabafo, vamos descobrindo histórias que são inocentes, sensuais, chocantes, emocionantes. A Velha chorou e riu!
Um ponto extremamente positivo é a pesquisa feita com a tecnologia. Um simples celular se torna um acessório de cena excelente, até mesmo o estouro inesperado do microfone se encaixa com a proposta, você não sabe se é proposital ou não, se as desculpas de Leandra fazem ou não parte do que estamos vendo. Uma das poucas montagens que soube utilizar a tecnologia a seu favor. Não apenas a tecnologia, porque há diversos momentos em que brinquedos, que a Velha costumava dar para seus Netos, são usados em cena, as músicas que eles emitem fazem parte da história. Brinquedos inocentes que ganham sensualidade, que viram sexuais e nos assustam, mas em seguida voltam a ser brinquedos inocentes.
O cenário é composto por instrumentos musicais, pois “ObsCena” é uma banda, que canta e conta suas histórias. Além de instrumentos temos brinquedos e um fundo lindo com bichos de pelúcia, que a iluminação de Tomás Ribas ressalta a beleza do cenário. Destaque também para o figurino de Marcelo Olinto, que se encaixa perfeitamente à proposta, deixando as atrizes sensuais e infantis ao mesmo tempo. Atuação, cenário, figurino e sonoplastia tudo se encaixa e complementa a proposta, tudo é magistralmente conduzido pela diretora Christiane Jatahy. Merecedora de muitos elogios.
A montagem tem muito que evoluir ainda e isso acontecerá com o passar do tempo, com as apresentações. A única cena que preocupa a Velha é a cena final, onde as atrizes gritam. Algumas estão totalmente com suas vozes apoiadas, trabalhando corretamente com respiração e diafragma, porém outras gritam apenas com a garganta e isso pode prejudicar demais as atrizes. Cuidado com a voz meninas, vocês são ótimas, não se destruam tão cedo.
“ObsCena” é uma montagem que deve ser vista por todos, principalmente pelos Netos Cibernéticos que estudam teatro. Observem o que se passa em cena, como tudo é feito e aprendam: “Obs: cena”. Este é o verdadeiro teatro experimental que dá certo.

Classificação da Velha: PEÇA – ÓTIMA! (entenda a classificação aqui)

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Informações sobre a montagem:

ObsCena
Texto: Christiane Jatahy, Vitor Paiva
Direção: Christiane Jatahy
Onde: Espaço Cultural Sérgio Porto
Quando: até 15 fev 2011 / segundas e terças, 21h
Quanto: R$ 20.00

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